quarta-feira, 6 de maio de 2015

"O CANTO DA REBELDIA" - Alberto Guerreiro Ramos

Foto: Alberto Guerreiro Ramos, do seu livro:A Nova Ciência das Organizações:Uma reconceituação da riqueza das Nações, Editora FGV RJ 1981

Com a contribuição da Mestre Rosane Aurore Romão Juliano (PPGAd UFF), compartilhamos com os leitores do ABRAS um trecho da poesia de Guerreiro Ramos, da década de 1930.
Este ano Guerreiro Ramos estaria complentando 100 anos. Começamos aqui a render nossas homenagens a esse brilhante intelectual brasileiro, que nos legou obras e trabalhos magníficos com sua visão peculiar sobre a sociedade brasileira.


O CANTO DA REBELDIA  

...Canto a rebeldia. A rebeldia é meu clima.  
A rebeldia é minha docilidade para com Deus. 
Deus me tornou rebelde. 
Sim. Deus me inspirou a santa rebeldia. 
A minha linguagem! Vocês não entendem minha linguagem, meus amigos. 
Meus amigos se desconcertam diante de mim. Eu desconcerto meus amigos. 
Meus inimigos, esses, me acham ridículo. Meus inimigos sorriem de mim. 
Mas sou rebelde porque dócil. Sou rebelde porque humilde. 
E tenho para os meus amigos e inimigos um transbordante amor. 
Sou rebelde porque humano. E meus amigos e inimigos são desumanos. 
São homens honestos, bons funcionários, bons cidadãos. 
Respeitam a ordem. Respeitam a opinião. São sensatos, os meus amigos e inimigos.  
Amam o progresso, a civilização.  
Mas eu sou bárbaro. 
Deus me tornou bárbaro. 
Deus me tornou insubmisso. 
E protesto contra os homens que estão mergulhados no esquecimento. 
Que estão tiranizados pela ordem, pela opinião, pela civilização...  

Guerreiro Ramos
( O drama de ser dois: poesias. Salvador, 1937)

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